A região geográfica formada por vegetação, fauna, clima, relevo e solos típicos compreende um Bioma. E um exemplo de Bioma que detém muitas características peculiares é a Floresta Atlântica. Para se ter uma ideia, esta floresta é considerada um “mosaico vegetacional”, ou seja, há diversas formações florestais e ecossistemas compondo a Floresta Atlântica. Com exemplo de suas florestas podem ser citados a Floresta Ombrófila Densa, a Floresta Ombrófila Aberta, a Floresta Ombrófila Mista, a Floresta Estacional Semidecidual e a Floresta Estacional Decidual.
Todas essas nomenclaturas fazem referência às diferentes condições ambientais e às espécies florísticas ocorrentes, bem como sua dinâmica. Por exemplo, a Floresta Ombrófila Densa é um local onde a temperatura é sempre alta e as chuvas são frequentes, sendo um local extremamente úmido – daí o nome “Ombrófila”. Por sua vez, a designação “Densa” ocorre em virtude das copas das árvores se tocarem, formando um dossel denso e uniforme. Em contrapartida, a Floresta Ombrófila Aberta apresenta características vegetacionais diferenciadas quando comparada com a Densa. O espaçamento entre árvores é maior (daí o nome Aberta) e há um período de aproximadamente 2 meses de período seco. A Floresta Ombrófila Mista, também chamada de Floresta de Araucária ocorre nas regiões sul do Brasil e em manchas no sudeste. Sua espécie arbórea predominante é o pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifólia). Já a Floresta Semidecídua ocorre geralmente em regiões de maiores altitudes, tendo sua vegetação adaptada a temperaturas mais baixas. Como resultado, essa formação florestal apresenta uma estação seca e fria definida e, dependendo do local, de 20 a 50 % das árvores perdem suas folhas durante o inverno, sendo esta uma adaptação ao ambiente carente de água e abundante em frio. Para efeitos de comparação, a Floresta Estacional Decidual possui duas estações climáticas bem definidas, marcada por chuvas após um longo período seco (cerca de 6 meses). Como efeito adaptativo, mais de 50% dos indivíduos vegetais perdem suas folhas.
Além das diferentes classificações de florestas citadas, ocorrem também os chamados Ecossistemas Associados, que são ambientes localizados sob o Domínio da Floresta Atlântica. Abaixo, segue a descrição de cada um:
- Manguezais: Ecossistema costeiro encontrado em áreas alagadiças, na zona de transição entre a planície e o mar. A vegetação desse ambiente (mangue) desenvolveu adaptações que a permitiu ocupar ambientes de alta salinidade e extremamente úmidos. Ocorrem predominantemente 3 espécies arbóreas: Mangue-vermelho (Rhizophora mangle); o Mangue-branco (Laguncularia racemosa) e o Mangue-vermelho (Avicennia schaueriana).
- Restingas: Sua vegetação ocorre em áreas planas e arenosas, onde houve acúmulo de sedimentos erodidos de rochas e depósito de material pelo mar. É uma ambiente de baixa fertilidade e umidade e alta salinidade. Apesar das severas condições, é um ecossistema de elevada riqueza botânica e de faunística, apresentando elevado grau de endemismo.
- Campos de Altitude: Em regiões de grandes altitudes do sudeste brasileiro (acima de 1800 m), nas cristas das serras, a floresta é substituída pelos Campos de Altitude, que possui uma vegetação predominante de gramíneas e arbustos. Fazendo parte da paisagem desses campos, são encontrados afloramentos rochosos, penhascos e picos, como o Pico das Agulhas Negras – RJ.
Pode-se perceber que com tantos ambientes diferentes, a Floresta Atlântica tem a capacidade de abrigar altíssima biodiversidade, possuindo mais de 200 mil espécies de plantas, sendo aproximadamente 8 mil endêmicas; 270 espécies de mamíferos; mais de 900 espécies de pássaros; 197 de répteis; aproximadamente 360 diferentes espécies de anfíbios e cerca de 350 espécies de peixes. Além desses dados, essa é a floresta mais rica do mundo quando se considera o número de árvores por unidade de área (454 espécies/ha no sul da Bahia), tornando o Brasil um dos doze detentores da chamada Megadiversidade.
Entretanto, mesmo possuindo tamanha importância biológica, a Floresta Atlântica sofre uma intensa degradação, reflexo de uma ocupação urbana desordenada; exploração intensa dos seus recursos naturais e substituição de suas áreas por locais com destinação agrícola os pastoril. Vale lembrar que é nesse domínio florestal atlântico que se encontram aproximadamente 70% da população brasileira, o que submete a Floresta Atlântica a diferentes tipos de pressão, reduzindo sua área natural drasticamente.
E o histórico seu histórico de degradação não é de hoje. Na época do descobrimento do Brasil, a Floresta Atlântica ocupava cerca de 15% do território nacional, uma área equivalente a aproximadamente 1 milhão e 300 mil de quilômetros quadrados! Sua extensão ia, através de uma faixa quase contínua ao longo da costa brasileira, desde o Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, além de parte dos estados de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
Atualmente, está reduzida a cerca de 13 % de sua cobertura florestal original. Historicamente, foi a primeira floresta a receber iniciativas de colonização, saindo dela, a primeira riqueza explorada, o Pau-brasil (Chaesalpinia echinata). Desde então vários ciclos se desenvolveram em seu domínio. O resultado de todos os períodos econômicos pelos quais a Floresta Atlântica passou foi a perda de grande parte das florestas originais e a contínua devastação e fragmentação dos remanescentes florestais existentes, o que coloca a Floresta Atlântica em péssima posição de destaque, como um dos conjuntos de ecossistemas mais ricos e ao mesmo tempo mais ameaçados de extinção do mundo. Por isso, é considerada um hotspot de biodiversidade.
Mas apesar do intenso desmatamento e fragmentação, a Floresta Atlântica, juntamente com seus ecossistemas associados, ainda é extremamente rica em biodiversidade. E para manter esse ambiente único, medidas públicas têm sido realizadas, como o Decreto Federal 750/ 93, que estabelece regras para o corte de suas árvores e exploração de seus recursos, além de estabelecer outras providências. Além disto, a Constituição Federal Brasileira estabelece, em seu artigo 225, que a Floresta Atlântica é um Patrimônio Nacional. Entretanto, todas as políticas ainda não são suficientes.
A proliferação de um modelo econômico de consumo não tem priorizado a conservação dos recursos naturais e o desrespeito à natureza tem sido crescente e contínuo, sendo então, um processo totalmente insustentável. E somos nós, seres humanos, os causadores de tantos prejuízos.
Então fica a seguinte pergunta: Como acabar com os processos destrutivos atuais? Não existe um caminho ou uma receita pronta. Os problemas que enfrentamos hoje são reflexos de comportamentos impensados outrora. Entretanto, sabemos o que está errado e temos a oportunidade de mudar, através de ações sustentáveis e no estabelecimento de uma convivência harmoniosa com a natureza. Precisamos ousar mais, criar novas expectativas; dominar novas tecnologias, incentivar a educação ambiental, etc...
Somente com tais mudanças conviveremos harmoniosamente com o meio ambiente que nos cerca. E temos na Floresta Atlântica, além de toda sua beleza e biodiversidade, uma oportunidade única de exercitarmos novas ações e criarmos novos valores, para que, com muito louvor, o dia 27 de maio possa ser de fato comemorado como o Dia da Floresta Atlântica.
GUILHERME RODRIGUES
ENGENHEIRO FLORESTAL
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