Vivemos hoje em mundo extremamente capitalista. A mídia promove a todo instante o consumo desenfreado. As fábricas parecem que já produzem os bens (de uma forma geral) com prazos cada vez mais curtos de duração. No sentido de que “se acaba logo”, compra-se outro em seguida (mais uma vez o consumismo desenfreado). As crianças, já em sua tenra infância estão aprendendo o que significa moda e consequentemente, que o que hoje está “bombando”, amanhã já deve ser descartado. Joga-se fora aquele bem ou produto e compra-se outro, que em seguida será também substituído. Esta máquina pode ser comparada a um monstro que ao menos uma coisa não leva em consideração: O SER HUMANO!
O Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), através de suas lideranças (nacional e estadual), estima que existam hoje aproximadamente 1.000.000, isso mesmo, um milhão de pessoas vivendo da catação nas ruas das grandes cidades. E acreditamos que este número esteja subestimado. O volume de dinheiro gerado pela reciclagem é imenso, mas, desorganizados, os catadores não tem condições de fazer frente aos empresários, sejam eles pequenos (ferros velhos, tão conhecidos por todos nós), médios ou grandes. Acredita-se que 95% de toda a arrecadação com a comercialização de recicláveis do país fiquem nas mãos dos empresários e apenas 5% seja disponibilizado para esta parcela que pelo número daria para fundar um município de grande porte. Imagine essa quantidade de pessoas, consumindo, pagando impostos. Imagine o catador, tão invisível para a grande maioria das pessoas. Ainda hoje há pessoas que confundem o catador com mendigos, ou pasmem, até com meliantes. Mas voltemos ao raciocínio. Imagine este exército de um milhão de pessoas (ou mais) trabalhando dignamente, vendendo dignamente seus recicláveis e consumindo “DIGNAMENTE”. Isso ajudaria sobremaneira a economia não é mesmo? Mas, sabe por que não acontece? Porque você, “digno” leitor, não está nem aí para o seu lixo! Não se preocupa em separar o seco do molhado. O orgânico do inorgânico. Se tivesse apenas este pequeno trabalho e, melhor ainda, doasse àquele individuo invisível, que com certeza, todos os dias percorre a sua rua, coletando o pouco que foi devidamente descartado, você, com este simples ato, estaria se tornando um cidadão ecologicamente correto e socialmente justo.
Não estamos aqui fazendo apologia ao catador para acabar com os empresários. Em hipótese alguma! Pois este catador terá que vender para alguém. Ao separar corretamente e doar seu “lixo”, o cidadão apenas faz com que todas a peças dessa máquina funcione devidamente. Só isso!
Se ainda não entendeu porque os Guardiões do Mar insistem tanto na educação ambiental focada no correto descarte (seleção dos recicláveis) e doação a um catador/cooperativa, siga nosso raciocínio.
Só com a mobilização em massa da sociedade poderá proporcionar a escala necessária para fomentar grupos solidários, ou seja, empreendimentos de catadores. A escala (grandes quantidades) se faz necessária, quando se faz a simples conta da cesta de recicláveis.
Atualmente (junho/11), a cesta, uma porção daquilo que normalmente é coletado (umas poucas garrafas pet, umas poucas latinhas, um punhado de papel misturado, umas caixinhas longa vida, etc.), está com o preço médio de R$ 0,35 (trinta e cinco centavos) o quilo. Logo, para que um catador possa ganhar o valor de um salário mínimo, será necessário que ele colete/trie/enfarde e comercialize exatos 1.557,14 quilos de materiais. Não estão inclusos aqui os custos fixos necessários para isso: energia/telefone/água/desgaste do veículo para coleta, motorista, IPTU, entre outros. Além disso, aqui está calculado (peso/salário) o valor líquido sem o pagamento dos encargos como o INSS por exemplo. Na verdade uma cooperativa com 20 catadores, com um caminhão e equipamentos básicos (balança, prensa, fragmentadora de papéis/plásticos, computador) e ainda um motorista cooperado, pagando todas as taxas e impostos necessários à manutenção do grupo/empreendimento, teria que coletar ao menos 45.000 ton/mês. Não estão contabilizados aqui os custos do veículo e dos equipamentos, partimos do princípio que estes foram adquiridos via patrocínio.
Por isso, este é um dos principais objetivos dos Guardiões do Mar. Transformar o patrocínio de grandes empresas como Petrobras, Fundação Banco do Brasil, BNDES, entre outras em infraestrutura para que o catador, ao verem a sociedade mobilizada, possa tornar-se também, mais que cidadãos. Tornarem-se também microempresários da reciclagem, fomentando a economia e ajudando a salva a nossa nave mãe: O PLANETA TERRA, com um mínimo de dignidade e de trabalho da sociedade.
Se você leu até aqui e, se concorda conosco, que tal começar hoje uma campanha de coleta seletiva na sua rua, condomínio, cidade. Vamos lá?Vamos mudar o mundo e a realidade das pessoas? Vamos gerar renda e ajudar o meio ambiente sem muito trabalho? Isso não é tudo, sabemos disso! Há muito que fazer, mas já é um bom começo.
Vejo vocês em posto de entrega voluntária de recicláveis ou quem sabe, em uma cooperativa de catadores.
Pedro Paulo Belga de Souza.
Presidente da Ong Guardiões do Mar
A coleta seletiva de insumos pós-consumidos é sobremaneira oportuna e é uma conduta a ser adotada futuramente em todas as sociedades urbanas. Isso vai ocorrer com mais freqüência no Brasil, a exemplo do que acontece em outros países, como, por exemplo, no Japão. Todavia esse é apenas o início do ciclo que vai dar início a uma situação ainda mais complexa: a preservação desses resíduos dentro da circunvizinhança da sua origem. Hoje, sabidamente, grande parte desses resíduos é destinada para outras Unidades da Federação, sobretudo o para o estado de São Paulo, evadindo da origem empregos e impostos. Existe também um enorme número de empresas de reciclagem de insumos de pós-consumo que não possuem tratamento de água e água reciclada, o que as obriga a escoar água de lavagem de insumos contaminados com substâncias orgânicas diretamente no sistema de esgoto das cidades. Outro ponto importante diz respeito à questão fiscal que assertivamente isenta de ICMS a venda dos resíduos dentro da mesma UF, porém tributa o produto reciclado, o que de um lado promove uma enorme cadeia de sonegação fiscal, ou por outro lado deixa as empresas de reciclagem congeladas ao crescimento.
ResponderExcluirPaulo Araruna
Publicitário, Pós-Graduado em Gestão Ambiental e Diretor de uma empresa de reciclagem desde 1973.
O colapso do saneamento
ResponderExcluirambiental no Brasil chegou a níveis insuportáveis. A falta de água potável e
de esgotamento sanitário é responsável, hoje, por 80% das doenças e 65% das
internações hospitalares. Além disso, 90% dos esgotos domésticos e
industriais são despejados sem qualquer tratamento nos mananciais de água. Os
lixões, muitos deles situados às margens de rios e lagoas, são outro foco de
problemas. O debate sobre o tratamento e a disposição de resíduos sólidos
urbanos ainda é negligenciado pelo Poder Público. Os resíduos industriais também constituem um problema ambiental e o seu gerenciamento deve ser conduzido de forma adequada, seja pela sua disposição final ou pela reciclagem.